data-filename="retriever" style="width: 100%;">"Nostalgia e revolta: tu não imaginas como andam propícios os tempos a todas as mediocridades. Estamos no período hilariante dos grandes homens-pulhas, dos pachecos empavesados e dos acácios triunfantes. Nunca se berrou tão convictamente tanta asneira sob o sol! Na Câmara e no Largo de S. Francisco, os mirabeaux andam aos pontapés. Em cada esquina um O'Connel; em cada degrau de Secretaria um salvador das instituições e da Pátria. Da noite para o dia, surgem não sei quantos imortais?É asfixiante! A atmosfera moral é magnífica para batráquios. Mas apaga o homem."
A transcrição anterior foi tirada da carta que Euclides da Cunha, grande escritor e jornalista, encaminhou para o seu cunhado, Otaviano Vieira, em 8 agosto de 1909. Se não conhecêssemos a sua origem, poderíamos afirmar que tais frases descrevem os dias atuais.
Quantos "homens pulhas", "pachecos empavesados" e "acácios triunfantes" vemos ou mesmo encontramos diariamente? Pessoas que agem de maneira sedutora ou provocadora para chamar a atenção. Em alguns momentos, têm falas agressivas, em outras, submissas. Assumem um caráter fantasioso, prometendo o impossível, sem jamais realizarem o mais elementar, apenas na busca de promoção pessoal.
Passados mais de 110 anos, as preocupações de Euclides da Cunha continuam assombrando nossos dias. O que é certo, é que tanto no passado quanto agora, os medíocres, os medianos, continuam presentes em todas as atividades quotidianas, seja na vida pública ou privada, na ciência, na política ou na religião. Eles fazem parte da história.
O problema surge quando se tornam dominantes, o que o cenário atual parece favorecer. O momento apresenta uma clara e maluca inversão de valores, onde as pessoas superficiais, enganadoras, preconceituosas e amorais conquistam cada vez mais espaço nas mídias sociais e nos cargos públicos, sendo inclusive idolatradas. Ignorantes passam por sábios; teorias da conspiração viram verdades. Asneiras são reproduzidas com convicção e bobos midiáticos são aclamados, com excelência.
Diante de tal realidade, não é difícil prever que, neste ano, em virtude das eleições, surgirão novamente os "salvadores da pátria". Alguns novos, outros já velhos conhecidos, repetindo as antigas promessas, dizendo que sabem como resolver todos os problemas de nosso país, que persistem por décadas.
Surge, então, o questionamento: como evitar que medíocres ascendam ao poder e acabem, nas palavras do escritor Euclides, por "apagar" o homem? Missão difícil! No entanto, não podemos perder a esperança! Devem existir homens idealistas, dispostos a lutar por um país mais justo, solidário e fraterno, que se preocupam, efetivamente, com o bem comum. Encontrá-los, com certeza, será o grande desafio de 2022.